Natalia Engler
Do UOL, em São Paulo
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O músico Chambinho do Acordeon em cena de "Gonzaga - De Pai para Filho", de Breno Silveira
Tudo que envolve o Rei do Baião Luiz Gonzaga é grande, insiste o cineasta Breno Silveira (“
À Beira do Caminho”),
mas grande também foi o risco assumido por ele na escolha do
protagonista de seu novo filme, “Gonzaga - De Pai para Filho”. O longa é
também mais uma incursão do diretor no mundo da música e das relações
entre pais e filhos, depois de “
Dois Filhos de Francisco" (2005).
OS TRÊS GONZAGAS
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Land Vieira, 19: dos 17 aos 23 anos
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Chambinho do Acordeon, 32: dos 27 aos 50 anos
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Adélio Lima, 40: aos 70 anos
Na produção, que estreia em cerca de 400 salas na sexta-feira (26), o
pai era Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e o filho, o também músico
Gonzaguinha, com quem ele sempre teve uma relação difícil.
Depois de fazer testes com artistas conhecidos, Breno foi encontrar
seus protagonistas em três atores sem qualquer passagem pelo cinema – um
deles sequer tinha experiência em atuação. Para as três fases do
personagem, Breno escolheu Land Viera, 19, que atuou nas novelas “Cama
de Gato” e “Cordel Encantado”, o pernambucano Adélio Lima, 40, que se
apresentava como o Rei do Baião no Museu Luiz Gonzaga em Caruaru (PE), e
o músico Nivaldo Expedito de Carvalho, 32, conhecido como Chambinho do
Acordeon, que jamais tinha atuado.
“No começo, eu tinha certeza que ia encontrar um bom ator que pudesse
ser maquiado para ser Gonzaga. Não me dei conta até começarem os testes
de que estava completamente errado. E foi me dando medo quando percebi
que ninguém preenchia a quantidade absurda de requisitos: ser parecido
fisicamente, cantar, tocar sanfona, que é difícil. Eu achei em um
momento que o filme não ia rolar, que a procura do Gonzagão ia
inviabilizar o filme. E aí surgiu a ideia de procurar no povo”, conta
Breno.
“Procurar no povo” significou anunciar testes em rádios de todo o
Nordeste, o que rendeu milhares de inscrições, que passaram por diversos
filtros até chegar em cinco candidatos que foram levados para uma
preparação no Rio de Janeiro. Entre eles estavam Adélio e Chambinho, que
disputavam o papel de Gonzagão na mesma fase, entre os 27 e os 50 anos.
Adélio tinha alguma experiência como ator amador, encarnando Gonzaga no
museu localizado em Caruaru. Já Chambinho nunca tinha atuado.
“Quando eu vi o Chambinho cantar, pensei ‘O Gonzaga baixa nesse cara
quando ele canta Gonzaga’. Ele tem uma impostação muito parecida, uma
sanfona muito parecida, um sorriso que parecia o do Gonzaga – porque o
Gonzaga tinha um sorriso meio malandro, meio matuto, mas um sorriso que
não tinha medo. Parece que ele passou pela vida sorrindo daquele jeito
porque tinha uma sabedoria matuta que eu acho que o Chambinho também
tem, e que cativa as pessoas. É nessa alma que consegui ver o Gonzagão
que eu queria”, conta Breno.
Mesmo tendo selecionado Chambinho para a vida adulta de Gonzaga, Breno
também reconheceu talento em Adélio e decidiu escalá-lo para viver o
personagem aos 70 anos. “Ele acabou se revelando um ator
extraordinário”, diz o diretor.
Em comum, Adélio e Chambinho tinham uma história longa com Luiz
Gonzaga. “Eu moro numa cidadezinha que se chama Caruaru e é a capital do
forró, só isso. Então, tenho uma ligação eterna com o Rei do Baião. Sou
até suspeito para falar de Gonzaga. Porque a gente vive Gonzaga, a
gente respira Gonzaga. Lá em Caruaru, somos todos Gonzagas”, diz Adélio.
“Eu sempre conheci Gonzaga como Rei do Baião, como sanfoneiro. Conheci a
música dele antes de conhecer a figura. A primeira lembrança que tenho
de Gonzaga se confunde com o meu avô, que era sanfoneiro. Isso veio
entrando na minha vida de uma forma orgânica”, conta Chambinho.
Ele também ressalta a importância que assumir um papel como este teve
em sua vida. “Entrei no filme para interpretar o Gonzaga, a pessoa que
urbanizou a música que permite que eu leve o pão de cada dia para casa.
No meu pensamento, tinha que ter pelo menos um sanfoneiro entre esses
três atores. A nossa sorte é que o diretor era o Breno, que é muito
corajoso”, diz o músico, que passou por um processo de preparação
intenso.