No último domingo
(22), o programa Domingo Show, da Record, aproveitou da difícil situação
de Antônio Pedro de Souza e Silva, o Russo. Durante 46 anos, Russo foi
operador de áudio e assistente de palco da Globo. E é da era de
Chacrinha, encerrada no final dos anos 1980. No programa, fazia o papel
que o anão Marquinhos faz no show de Geraldo Luis, o de palhaço sem
maquiagem e aberração.
Aos 83 anos, Russo se
aposentou há mais de 20, mas mesmo assim continuou trabalhando na
Globo. Passou pelo Domingão do Faustão, Xuxa e Caldeirão do Huck. Em
março deste ano, depois de sofrer um infarto no trabalho, a Globo o
obrigou a ficar em casa e bloqueou seu crachá, o impedindo de entrar no
Projac, a central de estúdios da Globo.
Segundo a companheira de Russo, Adriana Melo, a Globo se comprometeu a pagar o plano de saúde e uma “renda” por mais cinco anos. De acordo com o próprio Russo, ele ganha apenas “mil e poucos”
reais de aposentadoria (na entrevista, ele não confirmou a “renda” da
Globo). Mais do que a dificuldade financeira, o que magoa Russo é a
impossibilidade de trabalhar, o descarte depois de tanto tempo de
servidão. “Fui mandado embora da Globo sem mãe e sem mãe. Foi uma covardia o que fizeram comigo”, disse para a Record.
O drama de Russo,
inegavelmente, é notícia. A emissora usou a dor de Russo para atacar a
Globo, sua principal concorrente. Numa imagem simbólica, o crachá de
Russo na Globo foi quebrado ao meio pelos computadores da Record.
Geraldo Luis chegou a dizer que o assistente de palco é “uma lenda viva da TV brasileira”, e que “alguém que fica 50 anos numa empresa é mais do que funcionário”, é “patrimônio”.
A mensagem que a Record quis passar foi a de que a Globo descarta seus “talentos”
sem a menor cerimônia quando eles ficam velhos e não servem mais. Nas
entrelinhas, disse que a Globo é cruel, desumana. Não é bem assim.
Primeiro, o capitalismo é assim, as pessoas envelhecem e são obrigadas a
se aposentar, dar lugar aos mais jovens. Segundo, a Globo,
diferentemente da Record, tem uma política de recursos humanos das mais
invejáveis entre todas as empresas do país.
O caso de Russo,
chamou a atenção a forma como a Record escancarou que comprou a
entrevista. No final, Geraldo Luis, que trabalha cercado por anão, um
galo, uma “candinha” e até um sujeito fantasiado de morte, se
desculpou com Russo. O assistente de palco, que esperava uma nova
oportunidade de trabalho, vai continuar sonhando com a casa própria: ”É que eu não tenho a caneta, mas se tivesse eu contratava o Russo”. E entregou um cheque de R$ 10 mil para ajudá-lo.
A entrevista foi paga no palco, sem cerimônias. A Record, sim, usou e abusou de Russo. Ele só servia para atacar a Globo.
UOL«http://uzlemfatosefotos.blogspot.com.br/2014/06/record-paga-r-10-mil-por-entrevista-e.html