O renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que acabou de
ingressar na seção de fotografia da Academia Francesa de Belas Artes,
deu uma entrevista à rádio France Inter, na qual afirmou que o processo
de impeachment contra Dilma Rousseff é um golpe de estado imoral e
analisou o legado do PT para o Brasil. Leia abaixo.
Vamos falar primeiramente do Brasil, um país atualmente dividido. De
qual lado você está? Com certeza não estou do lado que deu um golpe de
estado. A esquerda chegou ao poder com uma proposta interessante.
Durante 400 anos tivemos apenas uma classe dominante no comando do país
e, nos últimos 13 anos, houve uma verdadeira redistribuição de renda.
São mais de 40 milhões de brasileiros que estavam abaixo da linha da
pobreza e que passaram à classe média. Há políticas sociais muito mais
interessantes que antes, mas a elite que perdeu o poder tentar voltar de
todas as maneiras. Temos uma imprensa de direita que combate o PT. Não
sou filiado ao partido, mas não concordo que se elimine a democracia no
Brasil através de um golpe de estado imoral.
Você acha que se trata de uma revanche política? Totalmente. Além
disso, a classe que quer voltar ao poder é a classe mais corrupta que
podemos imaginar. No mandato anterior de Dilma, houve 1.200 processos
contra a corrupção.
O PT mantém suas promessas sociais? O país realmente foi
transformado? O PT não estava realmente pronto para promover mudanças
das dimensões propostas. Havia uma base do partido que era corrupta e
que teve o mesmo comportamento dos outros partidos. Temos também que
cobrar o PT. Mas o balanço é o mais positivo que o Brasil já teve.
O que nós choca aqui na França quando escutamos o termo “golpe de
estado” é que não faz muito tempo que o Brasil passou por uma ditadura. É
legítimo falar de golpe? Poderíamos usar outro termo, mas parece um
golpe. Estão tentando destituir um governo legítimo e democrático, é a
primeira etapa de uma grande luta.
O que você achou do Prêmio Pulitzer dado a fotos de refugiados
(dividido entre a agência de notícias Reuters e o jornal New York Times,
este com fotos do brasileiro Mauricio Lima)? Dizem que o fotojornalismo
está morto, não é verdade. Ele conta a história. O que eu vejo nessas
fotos é o espelho de uma sociedade. Hoje falamos muito de correntes
migratórias como se fosse algo novo. Mas elas sempre existiram: a única
diferença é que agora elas chegam à Europa. A história é exatamente a
mesma.
A história é a mesma, e os dramas humanos continuam. A originalidade
das suas fotos é o preto e branco. Por que essa escolha? Nunca
fotografei em cores. A cor provoca uma perda de concentração no momento
de fotografar. Podemos dar poder e dignidade com o preto e branco. Desde
1980, trabalho com essa estética.
FONTE-http://glaucialima.com/