Relutou, estava ficando velho, seria como uma
rendição, mas ainda era um homem cheio de amores, acostumado as paixões e
aos prazeres da carne. Entrou na farmácia e pediu uma caixa de
Viagra,
o balconista lhe perguntou se era o de 25 mg, 50 mg, ou de 100 mg, seu
ímpeto inicial foi o de pedir o de 25 mg, mas para garantir pediu o de
50 mg, o de 100 mg, jamais, seria a total e completa rendição. O
balconista de forma irônica ao entregar o medicamento pergunta se o
Viagra é para um parente seu, sua integridade e seriedade não
permitiriam a mentira e muito menos a ironia.
– É para mim mesmo, e você meta-se com a sua vida, seu idiota!
Trancado no banheiro lia a bula atentamente, assustando-se com as
contra-indicações e efeitos colaterais, encheu-se de coragem, amava a
sua mulher, e engoliu o comprimido, estava feito, olhou para o seu
relógio de pulso e começou a marcar os 60 minutos de que necessitaria
para evidenciar os resultados esperados. Começou a insinuar-se para a
sua esposa, abraçou-a por trás, beijou a sua nuca, virou-a, deu-lhe um
beijo prolongado, elogiou a sua beleza que o tempo com toda a sua
maldade não tinha conseguido abalar, suas carnes ainda rijas, e ela
respondeu maravilhada a esta súbita incursão amorosa fora de hora de seu
marido, sentindo-se desejada. Mas ela lhe lembrou que ainda faltavam
algumas coisas para completar o almoço, e lhe deu uma pequena lista de
compras, saiu em direção ao mercado de olho nos minutos, faltavam 45,
fez as compras rapidamente, não comparou os preços e no caixa, tentou se
desvencilhar o mais rápido possível, faltavam 27 minutos, no retorno
para casa encontrou um amigo que o parou para contar uma novidade,
daquelas que quase sempre só interessam para quem conta, começando a
sentir a face afogueada e o início de calores íntimos, simulou uma
indisposição intestinal para interromper a conversa indesejada,
despediu-se e andou apressadamente, quase a correr, fato que fazia
aumentar o fluxo sanguíneo e por consequência o antegozo do que viria
pela frente, o elevador enguiçou, o porteiro conseguiu abrir a porta ,
galgou de dois em dois os 4 andares, conseguiu chegar, largou as compras
em cima da mesa da copa e arfando pela falta de ar, fruto do esforço,
da agitação e do desejo, toma a esposa pelos braços e a beija
apaixonadamente, que estupefata diante do arroubo juvenil de seu marido,
larga o pano de pratos sobre a pia e se abandona nos braços de seu
velho homem e companheiro de muitas jornadas, começam ali mesmo na
cozinha a se liberarem de algumas peças de roupas, como se fossem dois
jovens amantes. A campainha da porta toca, era a sobrinha que viera do
interior, que chegava mais cedo para a visita esperada a noite, visita
longa, daquelas para “botar a conversa em dia”.
Enquanto as duas mulheres conversavam animadamente na cozinha, ele no
banheiro, dava a descarga no vaso, levando com ela os comprimidos
remanescentes, não passaria mais por aquela ansiedade, dali para a
frente, até quando Deus e a sua genética permitissem, seria só ele
mesmo, sem artificialismos, justificava-se, enquanto pelo vaso escoavam
as suas efêmeras esperanças de alguns minutos de juventude eterna.
Do Observatório da Literatura
Fonte-http://www.robsonpiresxerife.com/