Fabio Wajngarten é um homem de negócios. Há três semanas, ele convocou a imprensa para explicar como ficou rico. Disse ter largado uma carreira promissora na advocacia para atender a um pedido do empresário Sílvio Santos.
“Ele queria que eu gravasse as propagandas que eram veiculadas numa emissora concorrente”, contou. “Comprei um videocassete, um caderno, e do meu quarto eu gravava essa emissora de televisão”, prosseguiu, descrevendo o próprio serviço como “pioneiro” e “inovador”.
Em 2017, o publicitário farejou outra oportunidade. No início da campanha presidencial, ele notou o crescimento de Jair Bolsonaro e se ofereceu para aproximá-lo do empresariado paulista. Desta vez, disse não ter buscado vantagens financeiras.
“Fiquei apaixonado por ele, pelo discurso da ética, pela humildade, pela sinceridade”, derramou-se. O convite para chefiar a Secretaria de Comunicação Social da Presidência teria surgido “por uma razão do destino, ao contrário do que muitos dizem”, acrescentou, sem que ninguém tivesse perguntado.
Em janeiro, a “Folha de S.Paulo” mostrou que os negócios particulares de Wajngarten passaram a se misturar com sua atuação pública. Uma de suas empresas recebe dinheiro de emissoras e agências contratadas pela Secom para fazer propaganda do governo.
É um caso típico de conflito de interesses, em que o mesmo personagem atua dos dois lados do balcão. Mesmo assim, Bolsonaro saiu em defesa do auxiliar. “Se for ilegal, a gente vê lá na frente”, desconversou. Wajngarten entrou na mira do TCU e da Comissão de Ética da Presidência, mas continuou a bater ponto no Planalto.
Ontem a situação do secretário se complicou. A Polícia Federal
abriu inquérito para apurar se ele cometeu os crimes de corrupção passiva, peculato (desvio de verba pública) e advocacia administrativa.
Sob investigação, Wajngarten deve se dizer cada vez mais “apaixonado” pelo chefe. Só a paixão justificaria a prática de outros atos que afrontam a lei, como o uso de canais oficiais da Secom para atacar uma cineasta que fez críticas ao presidente.