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Os roubos e furtos de veículos no Estado de São Paulo ultrapassaram a marca de 1 milhão de casos entre 2014 e 2019, conforme boletins de ocorrência policiais registrados pela SSP-SP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo) e disponíveis no site oficial do órgão. Juntas, as duas categorias somam 3.5 milhões de crimes desde 2001, ano em que os dados oficiais passaram a ser contabilizados.
Na somatória dos crimes, o ano de 2014 registrou o maior número de casos (211.532) — o mesmo ano detém os recordes de casos separadamente: 122.769 furtos e 98.763 roubos de veículos. Nos anos seguintes, houve decréscimo gradual da quantidade de ocorrências: 189.349 (2015), 188.881 (2016), 172.793 (2017), 158.213 (2018) e 137.169 (2019).
Após o período destacado (2014-2019), os anos de 2013 e 2001 concentram os maiores índices de ocorrências no Estado quando se contabiliza — somados — os dados de furtos e roubos: 215.510 e 215.011, respectivamente. Em 2008, foi verificado o menor volume de crimes: 159.124.
“O aumento da frota, a dimensão continental do Brasil, o alto preço das peças, dos veículos, a corrupção por parte de uma minoria de funcionários, que deveriam fiscalizar a frota de veículos, aliado a um grande mercado formado por pessoas que não se importam com a origem criminosa do bem, concorrem para o quadro atual”, avalia o consultor em segurança pública Marcos Carneiro de Lima, ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo.
O especialista ressaltou que os números coletados pelo governo paulista são bastante próximos da realidade, porque o índice de comunicação de ocorrências que envolvem veículos é de quase 100%, fato que não se verifica em outros crimes. “Por causa do seguro e da cautela do cidadão de não se ver envolvido com a utilização criminosa do seu veículo”, explicou.
Crime lucrativo
Marcos Carneiro de Lima afirma que o avanço da tecnologia no setor automotivo, com a criação de dispositivos e sistemas de segurança mais eficazes, não tem conseguido impedir a ação das quadrilhas especializadas neste tipo de crime. “Os veículos estão mais sofisticados, mas os criminosos têm conseguido burlar os sistemas. É o eterno jogo de gato e rato”, disse.
A expectativa pelo lucros altos e a demanda por peças e carros ilegais — produtos mais baratos e obtidos sem burocracia — mantêm as quadrilhas de criminosos em atividade constante.
“Várias leis foram criadas, bem como as delegacias especializadas. [Também há] a marcação do chassis em diversas partes do veículo ou um maior rigor no controle dos desmanches. Mas, a lei da oferta e da procura, mais a ideia de que o crime é lucrativo e a sensação de impunidade, fomentam este tipo de criminalidade”, acrescentou o consultor.
Destinos marcados
De acordo com Marcos Carneiro de Lima, parte dos produtos furtados e roubados é “picada” para ser negociada em desmanches ilegais. Mas há outros destinos certos para os produtos no mercado clandestino de veículos. “Depois de adulterados, os ‘dublês’ são vendidos nos diversos Estados brasileiros”, revelou.
Ainda conforme o consultor em segurança, as quadrilhas especializadas utilizam caminhões-cegonha para transportar os carros ‘dublês’ para o Estado do Paraná, onde são comercializados ou deixam o país pela fronteira com o Paraguai. “Em 2011 ou 2012, o 7º DP, da Lapa [zona oeste paulistana], fez um excelente trabalho desbaratando uma quadrilha”, complementou.
Quantidade de veículos em São Paulo
De acordo com os dados do Ministério da Infraestrutura do governo federal, atualizados em fevereiro de 2020, a frota do Estado de São Paulo é 30.131.254 veículos. Na capital paulista, há 8.583.039 veículos licenciados.