quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Idosa de 108 anos abre mão de vacina no interior do Rio: ‘Deixo para quem pode viver mais’

 RIO — Numa época em que a solidariedade e a empatia têm sido cada vez mais exigidas, Dona Hilda Cândida tem orgulho de pensar no próximo. Aos 108 anos, a idosa seria a primeira pessoa a ser vacinada em Rio das Flores, cidadezinha do Sul Fluminense . Mas abriu mão da dose a que tinha direito. Segundo ela, a generosidade é um dos valores mais importantes do ser humano.

— Eu já vivi tanta coisa nessa vida, com quase 109 anos, que prefiro dar a vacina para alguém mais novo, que ainda pode viver mais do que eu posso. Estou quase partindo, não quero essa vacina — afirma a idosa, que faz aniversário em 2 de março.

Com dores crônicas nas pernas — fruto da idade avançada —, Dona Hilda passa boa parte do dia sentada no banco da varanda da casa onde mora. A lucidez ainda está presente. Durante a entrevista, fecha os olhos a cada vez que busca as lembranças de uma vida “bem aproveitada”, como ela mesma define. Parece tentar trazê-las à tona, mesmo as mais antigas, de quando era bebê em Santo Antônio de Olaria (MG).

Dulcineia da Silva Lopes, 59 anos, recebe vacina Coronavac diante da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ao lado dela, à esquerda, Therezinha da Conceição, 80, foram as primeiras moradoras do Rio a receberem a vacina em Foto: Ricardo Moares / Reuters - 18/01/2020
Dulcineia da Silva Lopes, 59 anos, recebe vacina Coronavac diante da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ao lado dela, à esquerda, Therezinha da Conceição, 80, foram as primeiras moradoras do Rio a receberem a vacina em Foto: Ricardo Moares / Reuters – 18/01/2020▲
Dulcineia da Silva Lopes, 59 anos, recebe vacina Coronavac diante da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ao lado dela, Therezinha da Conceição, 80, foram as primeiras moradoras do Rio a receberem a vacina em 18/01/2020 Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Dulcineia da Silva Lopes, 59 anos, recebe vacina Coronavac diante da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ao lado dela, Therezinha da Conceição, 80, foram as primeiras moradoras do Rio a receberem a vacina em 18/01/2020 Foto: Leo Martins / Agência O Globo▲



— Eu tive pneumonia ainda bebê e não pude nem mamar no peito da minha mãe. Acharam que eu morreria e correram com o batizado para eu pelo menos ir sob as bênçãos de Deus. Aí minha madrinha fez uma papinha de angu morno para colocar sobre as minhas costas, acreditando na minha melhora. E aquilo deu certo — diz.

O sabor dos remédios não é seu favorito, mas mesmo assim ela não deixa de tomar as vitaminas receitadas pelos médicos e enfermeiros que a visitam periodicamente em casa. O que agrada o paladar de Dona Hilda é algo mais saboroso e geladinho.

— Eu gosto é de sorvete, de picolé, ainda mais nesse calor. Leite também, é tudo de bom. Eu gosto é das coisas boas, por isso nunca fumei e nunca bebi — diz, antes de uma longa gargalhada. — Eu adoro brincar, rir, a vida é boa assim. Quando fiquei dias internada no hospital, as enfermeiras nem queriam que eu fosse embora. Diziam que eu era a alegria por lá — conta, aos risos.

O bom humor é marca registrada. Na hora das fotos, questiona a fotógrafa sobre o tempo utilizado para as imagens. “E essa foto, sai ou não? Parece que está presa aí dentro (da câmera) e não quer sair por nada no mundo” e solta outra gargalhada.

Hoje, a idosa mora sozinha no distrito de Manuel Duarte e conta com o apoio de um neto que reside em outra casa no mesmo terreno. Segundo ela, a família mora longe. Dos sete filhos, três já morreram. Os netos ela não soma mais, perdeu as contas. Tem tararanetos que ela não conhece ainda.

Dona Hilda Cândida, de 108 anos, na varanda de sua casa, em Rio das Flores Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Dona Hilda Cândida, de 108 anos, na varanda de sua casa, em Rio das Flores Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo


Durante a pandemia, mantém-se isolada de vizinhos e amigos, a quem acena do portão. A Covid-19, que desde março já matou sete pessoas em Rio das Flores, é assunto que a idosa prefere deixar de lado. Mas mesmo sem aceitar a vacina, promete não descuidar da proteção e seguir usando máscara e álcool em gel.

— Falar em doença é ruim, por isso eu sempre digo que ela já acabou — afirma.

Fonte-https://www.jairsampaio.com/

O GLOBO

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