O som vem de longe, e a música dá o sinal. O arrasta pé já começou! E a grande estrela dessa festa a sanfona, que encanta o Brasil nessa época, toca o coração dos nordestinos o ano inteiro. Tudo começou com o forró pé-de-serra, feito para os casais dançarem agarradinhos. Das casas simples do sertão, o forró conquistou as grandes cidades. O ritmo movimenta a economia e agita o mercado de trabalho.
E o palco mais popular são as casas de reboco.
“Geralmente, a sala de reboco. Ela remete mais àquele caboclo que juntou os amigos pra rebocar a sala dele”, explica o empresário e sanfoneiro Amazan Silva.
Quem
conta essa história é um empresário de sucesso. Um homem nascido no
Nordeste, que conseguiu tudo isso sem deixar a terra onde nasceu. Uma
carreira que começou na sala de reboco.
“Domingo
vai ter um reboco lá em casa! Aí, compra uma branquinha, manda matar
umas galinhas de um chiqueiro ou um bodezinho, prepara aquela comedoria,
aquela bebidazinha...Os ‘cabra’ vem, passa a manhã inteira rebocando a
sala e ‘dispois’, como diz o matuto, depois vão dançar na sala de
rebocada. Na sala de reboco”, conta Amazan.
Amazan aprendeu a tocar sozinho, ainda criança, com a sanfona de um primo, o Hamilton. A mãe dele ficou espantada!
Globo Repórter: Menino pobre, sem sanfona, trabalhando na roça...Como é que veio o sonho da sanfona?
Amazan Silva, empresário e sanfoneiro: Ah, porque já era um pensamento de ser artista e de mudar de vida, né? Ao invés de estar apanhando algodão, limpando mato, estar tocando sanfona. Eu imaginava que era mais gostoso! Como de fato é.
Globo Repórter: A sanfona era o passaporte para uma vida melhor?
Amazan Silva: Pra uma vida melhor, sem sombra de dúvida. E graças a Deus, foi o que aconteceu.
De sanfoneiro, ele virou dono de uma fábrica de sanfonas - a única do Nordeste. Embarcar nesse desafio foi conselho de amigo: “É melhor você, em vez de montar, fabricar logo, rapaz! Você ser um fabricante de acordeão”, relembra o cabelereiro e sanfoneiro Elídio Batista.
Elídio era barbeiro de Amazan naquela época.
“E eu, cortando o cabelo dele, ele chegou pra mim e disse: ‘eu vou pra Itália!’ ‘Fazer o quê?’ ‘Me informar sobre acordeão!’”, diz Elídio.
“E
o resultado foi que, quando eu fabriquei a primeira, levei pra casa, eu
não consegui dormir também, porque eu deixei a sanfona na sala e fiquei
deitado no quarto. De vez em quando eu levantava pra ir olhar a
sanfona. Aí, pra facilitar, eu trouxe a sanfona e botei perto da cama.
De vez em quando eu descobria o rosto e olhava pra sanfona”, lembra Amazan.
“A sanfona é uma filha que eu estou tomando conta”, diz
Veneziano Barbosa, funcionário da fábrica. Veneziano é o funcionário
mais antigo. Antes da fábrica, ele já trabalhava para Amazan. Perdeu os
dedos, cuidando dos bodes que ele tinha no quintal.
Veneziano
Barbosa, funcionário da fábrica: Aqui eu cortava capim e moía na
forrageira para os carneiros de raça de Amazan.
Aprendeu a nova profissão graças a Amazan.
Aprendeu a nova profissão graças a Amazan.
“Hoje
eu tenho orgulho que ensinei a vários meninos aí, já tem os meninos
trabalhando. Fui eu que ensinei a eles. É muito bom. Quando eu vejo um
sanfoneiro em cima de um palco, quando eu chego, vou lá olhar qual a
sanfona que ele está tocando. Porque, se for uma que a gente fabricou,
eu digo ‘minha mão passou ali’. A gente tem muito orgulho”, conta Veneziano.
O
modelo mais completo chega a custar mais de R$ 20 mil. A fábrica tem 22
funcionários. Mão-de-obra especializada, um time de primeira.
Amazan Silva: Em
um país que tanto precisa de emprego, você consegue uma coisa como a
gente fez, realizar um sonho, mas também empregar várias famílias.
Globo Repórter: Mas você continua firme no palco?
Amazan Silva: Ah, não tenha dúvida! Nesse período agora, o que não falta é forró.
Fonte-http://www.blogbarrapesada.com/2015/06/globo-reporte-mostra-trajetoria-de.html
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