terça-feira, 11 de junho de 2013

“Barragem de Oiticica não tem pai, nem mãe. É a voz de uma multidão”, diz Monsenhor Antenor

 
Ninguém conhece mais de perto a ansiedade do povo da região pela Barragem de Oiticica, do que o monsenhor Antenor Salvino de Araújo (foto). Ao ser ordenado padre pelas mãos de Dom Manuel Tavares em 1960, Padre Antenor teve que dividir as funções de pároco de Santana em Caicó com cidades da região, dentre elas Jucurutu. As visitas à Barra de Santana, local onde será instalado o canteiro de obras da construção da Barragem eram sempre as quintas-feiras. O padre não dispensava a companhia de um auxiliar, e justifica “era pra abrir nove porteiras durante a estrada de barro até a Barra”.
As lembranças da época do local onde surgiu a idéia de construir a barragem ainda permanecem na mente de Padre Antenor. “Eu tive a oportunidade de ver o local da barragem, um povoado se deteriorando, um monte de terra abandonado. É um projeto que tem mais de 60 anos de esperança”, justifica o religioso.
Marcos Dantas – O senhor tem idéia de que ano começou esse projeto da Barragem de Oiticica?
 
Monsenhor Antenor – Esse projeto tem uns 70 anos. Todos nós desejamos imensamente que isso aconteça. Ali, feita a barragem e se também a transposição das águas do São Francisco vierem, é claro que as secas continuarão, enquanto houver a nossa terra. Mas aí já vai aliviar muito o fazendeiro, o seridoense e o homem desses sertões do RN.
O que o senhor destacaria de positivo nessa luta?
 
Graças a Deus o povo vem crescendo, vem falando, exigindo, reclamando e os políticos estão vendo que eles se tornam políticos, graças ao apoio do povo e se desprezam o povo fica muito difícil. O povo cresceu e está mais lúcido, coloca a sua inteligência mais a fulgurar, sem vandalismo. Lembrar, dizer, exigir, clamar, o povo está coberto de razão. Nós clamamos e eu clamo muito. Se eu não clamasse não tínhamos a Ilha, não tínhamos a Passagem das Traíras e não tínhamos também a estrada da Palma. E sempre clamei pela barragem de Oiticica, cada vez que eu tinha contato com um político eu falava, não esqueça a barragem de Oiticica que é um bem muito grande para nós. Claro que tudo tem seu preço, algumas fazendas e povoados serão cobertos, outras ficarão só com uma parte da terra, mas é um bem muito grande. É uma barragem que terá 10 vezes o volume do Itans. Se alguém disser que está fazendo a barragem está desinformado, porque essa barragem é a voz de uma multidão. Ela está sendo feita graças ao povo que está mais ativo, o ato da presidenta Dilma, da governadora Rosalba, da bancada federal e estadual, e do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves.
Muitos apostam na Barragem de Oiticica como a redenção e solução para os problemas hídricos da nossa região. Você concorda?
 
Não. Ela nem é redenção e nem solução. Ela é uma grande ajuda, uma forquilha, uma bengala. Por que seca nós teremos sempre, agora conviver com a seca e não resta a menor dúvida que Deus dando a inteligência ao homem, fazer esbarro d’água melhora. Os nossos lazaristas que nos educavam a 50 anos no Seminário de Caicó diziam: se o Brasil fosse dirigido por holandeses há muito que as águas do Tocantins estavam aqui no Nordeste e vinham por gravidade. Ai depois se falava em São Francisco. Não é redenção, mas é uma grande ajuda e aí com as águas do São Francisco ainda melhora muito mais. Né muito melhor a gente ter essa situação das secas do que as grandes enchentes do Sul?
Porque uma obra da importância como da Barragem de Oiticica demoram tantas décadas para se concretizar?
 
Porque essas coisas tão boas, redentoras passam tanto tempo? Não houve investimento na educação e pela falta dessa educação os projetos demoram 100 anos. Se houvesse educação como em Israel onde o menino vai entendendo de gente e já vai amando o que é seu, a sua casa. No Brasil tem os governos, eles que resolvam, não sentem o Brasil sua casa. Somos melhores do que os Estados Unidos, entretanto lá houve educação desde o começo e é a potencia que é. O Brasil seria até mais, se tivesse havido educação desde o inicio. Felizmente já existe uma grita a esse favor e vemos jovens de todas as classes estudando. Fico feliz em ver netos de moradores dos nossos fazendeiros se formarem, já que antigamente só os filhos dos fazendeiros tinham esse direito.
Marcos Dantas

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