A estudante universitária Indira Stedile Assis, 27, empreendeu uma verdadeira luta para ver seu direito à educação garantido. Aos três meses de gestação, a mãe de Indira contraiu rubéola. Como consequência, a filha nasceu surda. A vida de Indira é repleta de cobranças. "Os surdos são cobrados por que estudam e não aprendem. Eu não sou burra. Sou esperta. Quero estudar. Tenho esse direito".
Indira ingressou na faculdade, mas os professores não conheciam a Libras (Língua Brasileira de Sinais). "Eu prestava atenção na aula, mas não conseguia entender todas as palavras. O surdo não entende nada de português". Indira procurou o diretor da instituição e explicou que a presença do intérprete é garantida por lei. O diretor chegou a propor que ela pagasse do próprio bolso para ter um intérprete dentro da sala de aula. Ela não aceitou a resposta. Buscou amparo na lei. Copiou documentos e entregou para a direção da instituição. Depois de seis meses, a faculdade contratou professores intérpretes.
A história de Indira é o retrato da dificuldade que os surdos enfrentam no dia a dia na escola, no hospital, na fila do banco, no transporte público. "Os surdos se sentem isolados. Precisam do apoio da comunidade, que a sociedade os aceite, não como um objeto, e sim como pessoas normais", desabafa outra universitária, Rejane Filgueira da Silva, 43, que ficou surda após contrair sarampo aos nove anos de idade. "Ser surdo não é difícil só para mim, mas para todo mundo".
Língua oficial
Para tornar as coisas um pouco mais fáceis, o Brasil oficializou a Libras como língua natural dos surdos. O problema é que no RN a maioria dos surdos não conhece a Libras. Segundo dados do IBGE divulgados recentemente, 70% dos deficientes auditivos e surdos no RN não conhecem Libras. Para o instrutor de Libras Deoclécio Fábio Pessoa, 29, os dados revelam que a lei está só no papel. Além da falta de interação com os ouvintes, ele aponta a discriminação e o desprezo como maiores problemas enfrentados nodia a dia. "As pessoas discriminam os surdos a ponto de dar risada. Por que discriminar o surdo? Ele é igual a todo mundo".
O último censo, realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que havia no Brasil cerca de seis milhões de pessoas com problemas relacionados à surdez. Desse total, cerca de 170 mil se declararam surdas e apenas 15% entendedores da língua portuguesa.
Por Andrielle Mendes, da redação do DIARIODENATAL
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