O blog abre espaço hoje para um belo artigo do jornalista Ciro Pedrosa, que faz uma homenagem ao rádio.
E na sua homenagem ao rádio, Ciro faz referência a um radialista seridoense que morreu recentemente: Badóglio Araújo.
Badóglio (na foto) morava em Parelhas e foi durante muito tempo correspondente da Emissora de Educação Rural AM de Caicó. Depois trabalhou na Rural AM de Parelhas.
Associo-me à homenagem de Ciro ao rádio, minha primeira escola, e ao grande Badóglio Araújo.
Eis o artigo de Ciro:
E na sua homenagem ao rádio, Ciro faz referência a um radialista seridoense que morreu recentemente: Badóglio Araújo.
Badóglio (na foto) morava em Parelhas e foi durante muito tempo correspondente da Emissora de Educação Rural AM de Caicó. Depois trabalhou na Rural AM de Parelhas.
Associo-me à homenagem de Ciro ao rádio, minha primeira escola, e ao grande Badóglio Araújo.
Eis o artigo de Ciro:
A força da eterna voz humana
Um dia, Dona Maria, que sempre falava mais do que o homem da cobra, me disse pensativa e séria: “Eu só preciso de três coisas para viver: arroz, pão e pilha para o rádio. Pode até faltar arroz e pão, mas pilha de rádio… nunca!”
Pensando bem, para quem passava o dia inteiro de rádio ligado, “conversando” com os locutores com uma intimidade que só a alguns é dado tê-la, não estranhei esse arroubo de Dona Maria.
E me perguntei em seguida: como deveria ser a vida de Dona Maria sem rádio? Baiana, quase 60 anos, analfabeta, empregada doméstica a vida inteira, trabalhava agora numa casa de classe média no Butantã, zona oeste de São Paulo.
Mais: como seria a vida de tantas pessoas que, diariamente, são condenadas - tal como foi Sísifo na antiga Grécia - a realizar os mais inglórios, repetitivos e inúteis trabalhos, numa rotina igual e sem fim?
Só seria possível com a companhia do rádio. Talvez isso explique um pouco por que amamos tanto ouvir rádio, mesmo com o acesso cada vez mais fácil a jornais, revistas, televisão, internet e outros meios tecnológicos de comunicação.
Outro dia ouvi de um poeta natalense um belo depoimento de amor ao rádio.
Em uma de suas primeiras viagens a Buenos Aires, grana curta, desconhecimento do movimento daquele mundo, hospedou-se num pequeno quarto de um acanhado hotel.
Além da cama e do banheiro simples, havia um pequeno aparelho de rádio em cima do criado mudo.
Mal descansou do peso das malas, ligou o companheiro e, ao ouvir a voz aveludada do locutor anunciar o próximo tango, com todo aquele charme de amante latino, tomou o primeiro avião e decolou rumo às terras da imaginação. Via-se nos grandes salões, bailando lépido, como um sedutor bailarino de tango da noite portenha.
Passado o tempo e, tantas viagens depois, ele não esquece aquela primeira vez. E olhando para a tela fria da TV que hoje domina a atenção de todo quarto de hotel, ele ainda sonha com aquela voz suave que anuncia a próxima melodia.
Hoje, enquanto se prepara, física e psicologicamente, para desembarcar na Praça Vermelha, em Moscou, despido de seus sonhos de revolução, nosso poeta ainda ouve, em alto e bom som, com os alto-falantes do inconsciente, os acordes envolventes da canção Moscou, ouvida naquelas tardes quentes, úmidas e pobres da Casa do Estudante de Natal do final dos anos 50, em um pequeno rádio de pilha comprado a prestação.
O som que sai do rádio mexe com a imaginação. A tela da TV hipnotiza e quem hipnotizado está, não pode expandir os horizontes e enxergar o mundo com as lentes da imaginação.
O rádio não exclui. Fala para todos e instiga a imaginação. E, ao contrario da TV, não confina a grandeza do universo a uma tela de poucos centímetros quadrados.
O rádio abre a cabeça da gente para enxergar melhor as coisas do mundo com os olhos da imaginação. E até de nosso mundo interior.
Quantas vezes sonhei em conhecer os locutores que apresentavam o bravo Jornal Regional, transmitido ao meio dia pelas Emissoras de Educação Rural de Natal, Mossoró e Caicó?
De tanto ouvi-los, tornaram-se pessoas da casa. Esta semana, soube por uma nota de jornal, que uma dessas vozes tão amigas foi irradiar seu bem-querer na rádio do céu.
Badoglio Araújo, de Parelhas, partiu aos 67 anos. Sempre sonhei conhecê-lo pessoalmente. Não pude.
Soube por amigos que ele era uma pessoa do bem, que amava sua terra e o que fazia. Que sentia orgulho de ser o que era e fazer o que fazia.
Badoglio agora será nosso correspondente no céu. Sua voz estará sempre presente em minha vida e na vida de todos os seus ouvintes. Assim como todas as vozes humanas que um dia, ao ganharem o éter pelas ondas do rádio, se tornaram eternas.Postado por Oliveira Wandereley /Fonte:Blog Robson Pires.
Um dia, Dona Maria, que sempre falava mais do que o homem da cobra, me disse pensativa e séria: “Eu só preciso de três coisas para viver: arroz, pão e pilha para o rádio. Pode até faltar arroz e pão, mas pilha de rádio… nunca!”
Pensando bem, para quem passava o dia inteiro de rádio ligado, “conversando” com os locutores com uma intimidade que só a alguns é dado tê-la, não estranhei esse arroubo de Dona Maria.
E me perguntei em seguida: como deveria ser a vida de Dona Maria sem rádio? Baiana, quase 60 anos, analfabeta, empregada doméstica a vida inteira, trabalhava agora numa casa de classe média no Butantã, zona oeste de São Paulo.
Mais: como seria a vida de tantas pessoas que, diariamente, são condenadas - tal como foi Sísifo na antiga Grécia - a realizar os mais inglórios, repetitivos e inúteis trabalhos, numa rotina igual e sem fim?
Só seria possível com a companhia do rádio. Talvez isso explique um pouco por que amamos tanto ouvir rádio, mesmo com o acesso cada vez mais fácil a jornais, revistas, televisão, internet e outros meios tecnológicos de comunicação.
Outro dia ouvi de um poeta natalense um belo depoimento de amor ao rádio.
Em uma de suas primeiras viagens a Buenos Aires, grana curta, desconhecimento do movimento daquele mundo, hospedou-se num pequeno quarto de um acanhado hotel.
Além da cama e do banheiro simples, havia um pequeno aparelho de rádio em cima do criado mudo.
Mal descansou do peso das malas, ligou o companheiro e, ao ouvir a voz aveludada do locutor anunciar o próximo tango, com todo aquele charme de amante latino, tomou o primeiro avião e decolou rumo às terras da imaginação. Via-se nos grandes salões, bailando lépido, como um sedutor bailarino de tango da noite portenha.
Passado o tempo e, tantas viagens depois, ele não esquece aquela primeira vez. E olhando para a tela fria da TV que hoje domina a atenção de todo quarto de hotel, ele ainda sonha com aquela voz suave que anuncia a próxima melodia.
Hoje, enquanto se prepara, física e psicologicamente, para desembarcar na Praça Vermelha, em Moscou, despido de seus sonhos de revolução, nosso poeta ainda ouve, em alto e bom som, com os alto-falantes do inconsciente, os acordes envolventes da canção Moscou, ouvida naquelas tardes quentes, úmidas e pobres da Casa do Estudante de Natal do final dos anos 50, em um pequeno rádio de pilha comprado a prestação.
O som que sai do rádio mexe com a imaginação. A tela da TV hipnotiza e quem hipnotizado está, não pode expandir os horizontes e enxergar o mundo com as lentes da imaginação.
O rádio não exclui. Fala para todos e instiga a imaginação. E, ao contrario da TV, não confina a grandeza do universo a uma tela de poucos centímetros quadrados.
O rádio abre a cabeça da gente para enxergar melhor as coisas do mundo com os olhos da imaginação. E até de nosso mundo interior.
Quantas vezes sonhei em conhecer os locutores que apresentavam o bravo Jornal Regional, transmitido ao meio dia pelas Emissoras de Educação Rural de Natal, Mossoró e Caicó?
De tanto ouvi-los, tornaram-se pessoas da casa. Esta semana, soube por uma nota de jornal, que uma dessas vozes tão amigas foi irradiar seu bem-querer na rádio do céu.
Badoglio Araújo, de Parelhas, partiu aos 67 anos. Sempre sonhei conhecê-lo pessoalmente. Não pude.
Soube por amigos que ele era uma pessoa do bem, que amava sua terra e o que fazia. Que sentia orgulho de ser o que era e fazer o que fazia.
Badoglio agora será nosso correspondente no céu. Sua voz estará sempre presente em minha vida e na vida de todos os seus ouvintes. Assim como todas as vozes humanas que um dia, ao ganharem o éter pelas ondas do rádio, se tornaram eternas.Postado por Oliveira Wandereley /Fonte:Blog Robson Pires.
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